segunda-feira, 25 de abril de 2011

Efeito Mozart - Mito ou Realidade?

Sinapse

 Estudos mostram que aprender música antes dos sete anos provoca alterações cerebrais como aumento de sinapses (conexões entre os neurônios) e do tamanho do corpo caloso (região que faz a conexão entres os hemisférios). Isso melhora a capacidade de adaptação a novas condições e ajuda a reorganização cerebral, na eventualidade de alguma lesão.
Deu na Folha Online. Veja aqui.

Essa notícia me remontou a uma teoria que ouvi, cri e, confesso, difundi: - o "Efeito Mozart". Basicamente, a teoria afirma que ouvir Mozart - mais especificamente, a Sonata para dois pianos em ré maior (K.448*) - aumentaria instantânea e significativamente o quociente de inteligência do indivíduo. 

Ouvir Mozart antes de uma importante atividade intelectual (testes, entrevistas, exames e afins) tornou-se praticamente um rito cerimonial a partir dessa descoberta; mais que um simples boost mental, era uma forma de se apoderar - mesmo que temporariamente - da genialidade desse músico sem par. 

Em adição à teoria, ocorreu um curioso fenômemo fonográfico: uma enxurrada de discos do tipo "Mozart for Babies", afinal, que pai não quer uma megamente para seu filho? Apenas no Amazon.com contei 24 desses; um deles com o óbvio título "The Mozart Effect".

Citando o pesquisador de Harvard Christopher Chabris, "seria difícil convencer o público de que ouvir dance music pode tornar alguém mais inteligente". Por outro lado, a ideia de ficar mais esperto por ouvir Mozart soa tão fascinante quanto convincente. Exatamente por tratar-se de algo em que queremos acreditar, "é preciso ser cada vez mais cético".

A origem. Segundo artigo da revista Época, tudo começou quando Gordon Shaw e a colega Frances Rauscher - pesquisadores da Universidade da California - publicaram em 1995 os resultados de um teste aplicado a 79 universitários. Os estudantes tinham de adivinhar a forma de um papel depois de dobrado e cortado. Após a tarefa, um grupo permaneceu em silêncio, outro ouviu a Sonata de Mozart e o terceiro escutou uma história gravada ou a música minimalista de Philip Glass. O teste foi refeito em seguida, e o grupo de Mozart acertou 62% mais do que na primeira vez. O desempenho das demais turmas foi melhorado em 14% e 11%, respectivamente. Segundo os pesquisadores, a música clássica teria aumentado o raciocínio abstrato dos alunos, elevando em 8 pontos os resultados do teste de QI.

Mesmo que este desempenho nunca tenha sido alcançado novamente, estava criado o mito de número seis da lista de lendas reunidas pelo psicólogo americano Scott E. Lilienfeld em seu livro "50 grandes mitos da psicologia popular". Mito tido como fato por uma legião, pelo menos até 10 de maio de 2010.

Nesta data, uma pesquisa publicada por cientistas austríacos contradisse por fim a teoria de seus colegas californianos. Esta equipe da faculdade de Psicologia de Viena compilou os resultados dos estudos sobre o "efeito Mozart" desde 1993 e não encontrou nenhuma prova significativa sobre a existência desse fenômeno. Encerrando o mito, Jakob Pietschnig, diretor do estudo, explicou que "os que ouviram música, seja Mozart, Bach ou Pearl Jam, tiveram melhores resultados que os do grupo em silêncio. Mas já era sabido que uma pessoa rende mais se tiver um estímulo".

Resumo da ópera, não há nenhuma comprovação de que ouvir Mozart aumente nossas capacidades cognitivas. Por outro lado, não há dúvida dos benefícios da música sobre a mente.

Assim sendo, ouça Mozart, ouça Elvis, ouça música.



Curioso? Confira o 1º movimento da Sonata para dois pianos em D (K.448):




P.S. Se além de ouvir, gosta de cantar, confira alguns exercícios para aquecer a voz aqui.

 
* Por que as obras de Mozart são identificadas por um K? 

As obras de Mozart são identificadas pela letra K., seguida de um número que designa a ordem cronológica das composições. O K. vem do nome de Ludwig von Kochel, que organizou um catálogo das obras de Mozart, publicado em 1862, sob o título de Chronologist-thematisches Verzeichnis samticher Tonwerke W. A. Mozart (Registro cronológico-temático de todas as obras musicais de W. A. Mozart).

4 comentários:

  1. Mais uma lenda urbana que cai. Sendo assim, meu amigo, vou ficar com o Elvis.

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  2. muito bacana seu comentário. Tem embasamento empírico. É bom ler coisas assim que nos fazem refletir.Obrigada!

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  3. Muito bom. Eliminando a pseudociência de nossas vidas.

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